20110407

Aprendendo a lidar com as críticas.

Uma das maiores dificuldades de um pastor, sem dúvida, é lidar com as críticas que recebe constantemente. Algumas vezes duras e até impiedosas as críticas são uma fonte constante de pressão.

Nem mesmo a experiência de sucesso é capaz de afastar os críticos, que podem evocar o que se costuma chamar de “fenômeno do impostor” – isto é, mesmo o pastor bem sucedido acredita que seu sucesso não é justificável. Seu pensamento é: “alguém como eu não pode ser bem sucedido”.

Nem é preciso dizer que essa atitude acaba por se tornar uma profecia auto-realizável.

A sensibilidade a críticas

Algumas pessoas são mais sensíveis a críticas do que outras. Basta uma pessoa nos criticar que pensamos que a palavra dela é o veredicto final. Basta a menor falha para que nosso crítico interno saia proclamando que tudo acabou.

Todo pastor precisa desenvolve um mecanismo de filtragem que lhe permita ignorar parte das críticas que constantemente recebe.

Quando não há essa filtragem a situação pode se agravar pelo que chamo de “fator diapasão”. Quando você está passando por momentos difíceis em casa ou enfrentando dificuldades em alguma área da igreja, qualquer crítica que aparece faz com o seu diapasão interno comece a vibrar.

Se você pegar um diapasão e fazê-lo vibrar, se aproximá-lo de um outro diapasão na mesma freqüência o outro começará a vibrar também. Isso é chamado de ressonância. As críticas normalmente ressoam na freqüência das nossas inseguranças.

Muitos pastores não se sentem completamente seguros do próprio chamado e acalentam dúvidas de que talvez o seu pastorado tenha sido uma iniciativa meramente humana. Assim vivem como se fossem um farsa que pode ser descoberta a qualquer momento. É fácil entender a sensibilidade de alguém assim às críticas.

Nossa história pessoal também explica a sensibilidade a críticas. Quanto mais duras as críticas que você tiver recebido na infância, mas árdua será a tarefa de desenvolver a capacidade de avaliá-las.

Todos nós sabemos que nem todas as críticas são sensatas, justas ou corretas, e que até mesmo os críticos que mais amamos e mais amor sentem por nós podem, de vez em quando, errar.

Assim precisamos desenvolver um mecanismo de filtragem que nos livre de vivermos constantemente debaixo de pressão e angústia.

Essa filtragem consiste basicamente em aprendermos a questionar as críticas e os críticos.

1. Quem disse?

Essa é a primeira pergunta que se deve fazer. Indagar se seu crítico tem alguma credibilidade é uma atitude que se aplica a todo tipo de situação.

Victor Frankl propôs uma teoria para explicar porque alguns prisioneiros de campos de concentração nazistas conseguiram sobreviver e outros simplesmente desistiram de viver. Ele observou que os que desistiam de viver eram aqueles que aceitavam o modo como os nazistas os viam, enquanto os que sobreviveram se recusavam a sentir-se humilhados apesar de situação degradante. Os nazistas os tratavam como lixo, mas em seu íntimo eles diziam: “e porque eu deveria acreditar num bando de porcos como vocês?”

Em outras palavras, eles conseguiram filtrar as críticas simplesmente reconhecendo que os críticos não estavam a altura.

Quando perguntamos “quem disse?” o objetivo é tanto excluir os críticos sem credibilidade quanto classificar o nível de conhecimento daqueles que se consideram merecedores de atenção.

Além disso é bom avaliarmos se eles têm algum outro motivo para nos criticar. Será que vão se beneficiar de alguma maneira se conseguirem que nos sintamos mal?

2. Quantos disseram?

À pergunta “quem disse?” devemos incluir uma outra interrogação: “quantos disseram?”.

Quem não questiona seus críticos tende a aceitar como definitivo um único comentário negativo. Normalmente essas pessoas estão apenas ressoando alguma dificuldade ou sensibilidade pessoal numa área específica.

O maior problema de darmos como definitiva uma única crítica é que dificilmente temos como saber se aquela opinião isolada está bem fundamentada, se é correta ou se foi tendenciosa. A melhor maneira de conferir uma opinião é obter diversas outras e compará-las entre si.

3. O fator “todo mundo”

O crítico mais eficaz de todos e que mais afeta a maioria das pessoas é aquele todo-poderoso conhecido como “todo mundo”. É difícil imaginar algo pior que “todo mundo”.

Como não aceitar um veredicto emitido por “todo mundo”? Como rejeitar aquilo que “todo mundo” aceita? A verdade porém é que “todo mundo” não existe. No entanto aceitamos a existência desse “todo mundo” – e nos submetemos ao seu poder sem questionar.

4. O crítico interior

Nosso crítico interno não só julga corretas todas as supostas críticas externas como acrescenta e inventa mais algumas. É o mais duro dos críticos. Ele consegue ser ainda pior do que “todo mundo”.

Engolir sem questionar tudo o que esse crítico interno nos diz é tão equivocado quanto aceitar toda e qualquer crítica externa sem antes conferir se tal opinião foi emtida com conhecimento de causa, se está correta e não é tendenciosa.

Podemos concluir que nós não estamos qualificados para fazermos certas críticas a nós mesmos.

Normalmente o crítico interno coloca a culpa em “todo mundo” que já sabemos que não existe.

5. O que essa crítica significa?

O objetivo desse pergunta é reconhecer uma crítica construtiva. Parece difícil de acreditar, mas existem críticas construtivas. E há também críticas que pretendem ser construtivas, mesmo que acabem não sendo.

O importante é antes de tudo concentra-se exatamente no que foi dito – não em que emoções essas palavras disparam na gente, nem na suposta motivação que atribuímos ao crítico. Teremos condições muito melhores de decidir o que responder.

Precisamos nos lembrar dos problemas que podemos ter quando presumimos as supostas reais motivações do outro.

Um irmão chega no pastor e diz: “creio que os cultos estão passando muito da hora. Talvez a pregação devesse ser um pouco mais curta. O que o pastor acha?”

Se o pastor se convencer da existência de algum significado oculto nessa observação, não haverá limites para a gama de interpretações negativas possíveis.

Interpretação furiosa. Na verdade ele está querendo dizer que eu não sou um bom pregador. Eu vou fazer com que ele busque outra igreja que tenha um pregador de que ele goste.

Interpretação magoada. Esta foi a maneira mais educada que ele encontrou para dizer que a minha pregação é um porcaria. Ele provavelmente tem razão. Talvez eu até devesse parar de pregar.

Interpretação dramática. Depois de tanto trabalho que eu tive preparando esses sermões, depois de tanta oração e sacrifício é assim que sou retribuído, com ingratidão.

Interpretação frustrada. Não tem jeito mesmo. Por mais que eu tente nunca vou conseguir agradar mesmo, nunca vou ser bom o bastante.

Se o pastor, porém, parar e avaliar a crítica exclusivamente com base em seu conteúdo, poderá determinar se a crítica pode acabar sendo construtiva.

Para ser construtiva uma crítica deve ter algum valor. O pastor pode aceitar a sugestão e diminuir a duração do culto só para evitar críticas ou pode fazer isso porque de fato concluiu que é o melhor.

Nem sempre é preciso responder imediatamente a uma crítica. Nosso primeiro impulso pode ser de raiva ou de passividade. Adiar nossas respostas a críticas internas e externas pode nos ajudar a separar as que são construtivas das que não são.

Não há nada de errado em se escutar críticas. O erro está em acreditar em todas, ou rejeitar todas, sem parar para refletir a respeito, sem ponderar o conhecimento de causa do crítico, sua motivação, o conteúdo da crítica e o seu valor.

Não há como evitar a avalanche de críticas que nos cercam, elas certamente virão de todos os lados. Precisamos apenas desenvolver um sistema de triagem para filtrá-las.

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