Uma Graça pouco desejada.
“Por que vos foi concedida a
graça de padecerdes por Cristo, e não somente crerdes nele...” Fp 1:29
Amados, a maior parte dos
crentes que eu conheço, sabe exatamente que graça significa “favor imerecido”.
Jamais conseguiríamos pagar pela graça maravilhosa dispensada sobre nós, por
isso é favor imerecido. Todavia, na cabeça de muitos crentes, graça é sinônimo
de felicidade, facilidade, bênçãos sem medidas, prosperidade e apenas isso.
Nunca imaginamos que graça possa implicar em sofrimento, aflições ou angústias.
Nunca pensamos em graça como uma oportunidade de padecer por Cristo, um meio de
sofrer pela causa do evangelho de Jesus. Por essa razão, acredito ser
importante falar sobre uma abordagem da graça que muitos pastores ocultam em seus
púlpitos. Alguns desses ministros dizem: “Não convêm dizer que graça produza
sofrimento”.
A partir de Filipenses
1:29, aprendemos que além da graça que recebemos para substituir-nos na cruz e
livrar-nos do inferno, temos uma promessa de manifestação de graça após o novo
nascimento, que nos dá o privilégio de sofrermos por amor a Jesus. Isso mesmo!
Sofrermos por amor a Jesus. Não se assuste, pois estou reproduzindo exatamente o que disse
Paulo aos Filipenses.
De fato, poucos querem
essa graça, ela não é muito atrativa, pois tudo o que esperamos da graça é
provisão, conforto, descanso, alívio, prazer, etc. No entanto, embora saibamos
destes benefícios que a graça nos possibilita receber, há ainda, outra
manifestação da graça não tão desejável. Na verdade, poucos crentes a veem como
privilégio, como favor imerecido. Para ser mais objetivo, estou me referindo à
graça de contribuir.
A disposição para
contribuir é uma das principais marcas da graça de Deus operando no crente. A
atitude de contribuir como um mantenedor da igreja é uma graça de Deus que nos
foi concedida e nos identifica como verdadeiros cristãos. O Reverendo Hernandes
Dias Lopes escreveu: “A contribuição
cristã é uma prática bíblica, legítima e contemporânea. O homem é julgado pelo
seu dinheiro (bens materiais) tanto no reino deste mundo quanto no reino dos
céus. O mundo pergunta: Quanto este indivíduo possui? Cristo pergunta: Como
este homem usa o que tem? O mundo pensa, sobretudo, em ganhar dinheiro; Cristo
fala sobre a forma de dá-lo. E quando um homem doa, o mundo ainda pergunta:
Quanto doou? Cristo pergunta: Como doou? O mundo leva em conta o dinheiro e sua
quantidade; Cristo leva em conta o homem e os seus motivos. Nós perguntamos
quanto um indivíduo doa. Cristo pergunta o que lhe resta. Nós olhamos a oferta.
Cristo pergunta se a oferta foi um sacrifício.”
Queridos, eu costumo
dizer que “Um dos primeiros sinais de
alguém alcançado pela graça é a disposição para dar sem limites”.
A graça de contribuir é ensinada aos Coríntios
“1 Também, irmãos, vos fazemos conhecer a graça de Deus concedida às
igrejas da Macedônia; 2 porque, no meio de muita prova de tribulação,
manifestaram abundância de alegria, e a profunda pobreza deles superabundou em
grande riqueza da sua generosidade. 3 Porque eles, testemunho eu, na medida de
suas posses e mesmo acima delas, se mostraram voluntários, 4 pedindo-nos, com
muitos rogos, a graça de participarem da assistência aos santos. 5 E não
somente fizeram como nós esperávamos, mas também deram-se a si mesmos primeiro
ao Senhor, depois a nós, pela vontade de Deus; 6 o que nos levou a recomendar a
Tito que, como começou, assim também complete esta graça entre vós. 7 Como,
porém, em tudo, manifestais superabundância, tanto na fé e na palavra como no
saber, e em todo cuidado, e em nosso amor para convosco, assim também abundeis
nesta graça.” 2Co 8:1-7
Podemos perceber a
contribuição como graça, na ocasião em que Paulo leva ao conhecimento da igreja
de Corinto a atitude generosa e singular de amor que permeava os irmãos da
igreja da Macedônia.
As igrejas situadas na
província da Macedônia se solidarizaram com a pobre comunidade cristã da
Judéia, enviando-lhes muitas contribuições financeiras. É bem provável que o
volume dessa oferta deve ter sido grande, uma vez que o próprio Rei Félix
esperava receber algum dinheiro de Paulo (At 24:25,26). O gesto generoso dos
crentes da Macedônia inspirou e motivou Paulo a enviar Tito a Corinto, a fim de
promover a mesma compreensão desencadeadora de generosidade nessa igreja. “de maneira que exortamos a Tito que, assim
como antes tinha começado, assim também completasse entre vós ainda esta
graça.” 2Co 8:6
Paulo enxergou no gesto
dos macedônios, um padrão mais elevado de manifestação da graça. A igreja de Corinto
que se julgava madura, abundando em fé, conhecimento teológico, sabedoria e
serviço social, no mínimo, deveria agir de maneira semelhante à dos irmãos
macedônios.
Da mesma maneira que
fluímos nos dons, na comunhão, no discipulado, devemos fluir também e
principalmente na generosidade para com a igreja local. A conclusão é que
ofertar para a obra do Senhor é um privilégio, bem como é um privilégio ser
curado, restaurado, transformado pelo poder de Deus. Nós não merecemos, mas
Deus nos favoreceu nos agraciando de maneira incondicional.
Devemos enxergar a
contribuição também como graça, pois nenhum de nós é digno de sustentar a obra
com nossas ofertas.
Em seu livro, “Uma graça
que poucos desejam”, Caio Fábio escreve: “Nossa
contribuição é uma concessão de Deus. A santidade absoluta de Deus, se
praticada sobre nós, não nos permitiria ‘nem contribuir’; mas na sua graça, Ele
santifica nosso dinheiro, quando a grande motivação que nos leva a adquiri-lo é
poder viver com dignidade e promover a causa do reino de Deus. Se não for essa
a motivação secreta de nossos corações, a nossa contribuição não passará de uma
abominação. Será semelhante a atitude que norteou a oferta de Caim”. (Gn
4:1-7; Jd 11)
Nossa oferta ou
contribuição ao Senhor não é de fato uma oferta que fazemos para Deus, é antes
de tudo, uma oferta de Deus a nós. Quem oferta a Deus, oferta a si mesmo, na
medida em que dar, antes de ser uma graça que praticada de nós a outros, é uma
graça de Deus a nós. Se alguém é impelido a dar, humilde e alegremente, é
porque já foi tocado pela graça de Deus. Mas poucos querem essa graça, poucos
abriram seus olhos para essa maravilhosa revelação, de termos sido escolhidos
para participar de tão excelente obra.
Infelizmente o medo é um
dos tantos equivocados fatores de motivação para a devolução de dízimos e
contribuições nas igrejas. Muitos pensam que se não dizimarem, serão chamados de
ladrão. Fica claro que estes não estão debaixo da graça, mas debaixo da lei. O
sentimento é natural e carnal, é como atrasar uma conta de luz ou água e ficar
com medo de ser protestado no SPC ou SERASA. Isso é muito triste! Tudo na graça
é um produto do amor, mas na lei tudo funciona na base do medo e intimidação. O
ato de contribuir movido pela graça é consequência de temor e não medo, devemos
contribuir por amor a Deus e sua obra. Os cativos do medo, não são movidos pela
graça.
Fomos privilegiados com a
graça de contribuir e não podemos deixar escapar a oportunidade de sermos
semelhantes aos macedônios. Quem apenas dá o dízimo ou se deixa motivar a
contribuir pelos mesmos sentimentos daqueles que pagam suas despesas mensais
para não serem protestados legalmente, ainda não passaram da Velha Aliança para
a Nova Aliança, ainda não pensam com a mente de Cristo, mas relacionam com Deus
na base da justiça própria, podem até ser chamados de fariseus ou religiosos,
mas não podem ser reconhecidos como cristãos.
O Novo Testamento
estabelece um padrão mais elevado de relacionamento com Deus e vai além do
Velho Testamento também na questão da contribuição. Em Cristo, o dízimo não é a
mensalidade dos crentes num clube chamado igreja, e muito menos na pessoa
jurídica do pastor presidente. Na escala de valores do Reino, o dízimo e as
ofertas são valores de referência mínima para estabelecer o piso de nossas
contribuições, entendidas não como cobrança, mas como graça, como privilégio.
“Por que vos foi concedida a
graça de padecerdes por Cristo, e não somente crerdes nele...” Fp 1:29
Continuando a palavra
sobre a contribuição, uma graça pouco desejada; a seguir alistei alguns
princípios de contribuição provenientes da graça de Deus.
1. A boa situação financeira não deve ser pré-requisito para alguém
contribuir. “porque, no meio de muita prova de tribulação, manifestaram abundância de
alegria, e a profunda pobreza deles superabundou em grande riqueza da
sua generosidade...”. 2Co 8:2
Muitas pessoas oram ao
Senhor dizendo: “Jesus, quando eu
conquistar muito, então ofertarei na sua casa”. Veja que os irmãos da
Macedônia não esperaram enriquecerem para ofertar, eles viviam em profunda
pobreza e simplesmente assumiram a responsabilidade de serem fiéis no pouco, dando
o melhor que eles tinham. Lucas, quando escreveu o livro de Atos, relatou a
graça se manifestando sobre essas igrejas. “Assim,
pois, a igreja em toda a Judéia, Galiléia e Samaria, tinha paz, sendo
edificada, e andando no temor do Senhor; e, pelo auxílio do Espírito Santo, se
multiplicava.” At 9:31
Não fique esperando
abundância da parte de Deus se você não está disposto a contribuir na sua
pobreza.
2. Alegria, generosidade, voluntariedade e boa-vontade são motivações
indispensáveis a quem quer contribuir. “Porque eles,
testemunho eu, na medida de suas posses e mesmo acima delas, se mostraram
voluntários...”. 2Co 8:3
É impossível compreender
tamanha generosidade dos Macedônios com uma mente natural. O texto acima está
dizendo que esses irmãos deram do que eles não tinham, é como se eles tivessem
tomando emprestado para ofertarem aos irmãos mais necessitados.
3. A contribuição deve ser extraordinária e não ordinária. “e
a profunda pobreza deles superabundou em grande riqueza da sua generosidade.”
2Co 8:2b
O esforço dos Macedônios
não foi algo mediano, mas algo incomum, eles fugiram da mediocridade e romperam
com os limites do natural. Esses preciosos irmãos não contribuíram para
constarem nos relatórios, nem para aparecerem como estatística, eles foram
sobrenaturais.
4. A contribuição deve ser uma extensão do compromisso que se tem com o
louvor a Deus, com a maturidade espiritual e com a propagação do Reino de Deus. “E
não somente fizeram como nós esperávamos, mas também deram-se a si mesmos
primeiro ao Senhor, depois a nós, pela vontade de Deus...”. 2Co 8:5
“Como, porém, em tudo, manifestais superabundância, tanto na fé e na
palavra como no saber, e em todo cuidado, e em nosso amor para convosco, assim
também abundeis nesta graça.” 2Co 8:7
Lembremo-nos do motivo
pelo qual Caim teve sua oferta rejeitada. Em Gênesis podemos ver que a oferta
de Caim rejeitada por Deus foi consequência de uma atitude rejeitada. “3 Ao cabo de dias trouxe Caim do fruto da
terra uma oferta ao Senhor. 4 Abel também trouxe dos primogênitos das suas
ovelhas, e da sua gordura. Ora, atentou
o Senhor para Abel e para a sua oferta, 5 mas para Caim e para a sua oferta não atentou. Pelo que
irou-se Caim fortemente, e descaiu-lhe o semblante.” Gn 4:3-5
Caim foi rejeitado porque
confiou na sua força, sua oferta foi desprovida de fé. O escritor aos Hebreus
diz que pela fé Abel ofereceu a Deus maior sacrifício do que Caim (Hb 11:4).
Abel estava sob a graça, pois pela fé demonstrou confiança e dependência de
Deus. Por outro lado, Caim era ímpio, o que determinava as suas obras como más.
Por não agir pela fé, tentou se justificar pelas obras e por isso foi
rejeitado. Abel foi aceito porque creu em Deus (graça), e Caim, por sua vez,
não confiou em Deus, antes confiou na oferta que ofereceu (obras próprias) e
foi rejeitado. Caim foi rejeitado porque não creu em Deus, e por essa razão
continuou vivendo na condição herdada de Adão. Por estar sob a condenação de
Adão, Caim não foi aceito por Deus, e nem a sua oferta, pois é impossível ao
imundo oferecer uma oferta que suba como cheiro suave ao Senhor. (Jo 14:4)
Quando ofertou, a sua
real condição diante de Deus ficou evidente: Caim viu que não era aceito por
Deus quando a sua oferta foi rejeitada!
5. A contribuição tem que ser feita ainda que ela signifique um auto
empobrecimento. “pois conheceis a graça de nosso Senhor
Jesus Cristo, que, sendo rico, se fez pobre por amor de vós, para que, pela sua
pobreza, vos tornásseis ricos.” 2Co 8:9
“Melhor é o pouco, havendo o temor do SENHOR, do que grande tesouro onde
há inquietação.” Pv 15:16
“Melhor é o pouco, havendo justiça, do que grandes rendimentos com
injustiça.” Pv 16:8
6. A contribuição alegre e voluntária é desencadeadora de um ciclo de
bênçãos. “6 E isto afirmo: aquele que semeia
pouco, pouco também ceifará; e o que semeia com fartura com abundância também
ceifará. 7 Cada um contribua segundo tiver proposto no coração, não com
tristeza ou por necessidade; porque Deus ama a quem dá com alegria. 8 Deus pode
fazer-vos abundar em toda graça, a fim de que, tendo sempre, em tudo, ampla
suficiência, superabundeis em toda boa obra, 9 como está escrito: Distribuiu,
deu aos pobres, a sua justiça permanece para sempre. c, 11 enriquecendo-vos, em
tudo, para toda generosidade, a qual faz que, por nosso intermédio, sejam
tributadas graças a Deus.” 2Co 9:6 a 11
Depois de sermos
ministrados por tão grande revelação, resta-nos uma pergunta: O que poderá nos
impedir de contribuir de maneira generosa se somos movidos pela graça?
Que Deus te abençoe e
agracie sempre em nome de Jesus!
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